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“Baby blues” ou depressão pós-parto? Como distinguir

30 Dez 2023 - 08:00

“Baby blues” ou depressão pós-parto? Como distinguir

A gravidez, o parto e o pós-parto são fases, muitas vezes, vistas como momentos em que os pais e, nomeadamente as mães, devem sentir uma felicidade extrema e constante. Perante as expectativas das pessoas que as rodeiam, sentir o mínimo de frustração e tristeza é, com frequência, percecionado como um problema. 

Mas como distinguir episódios de tristeza passageiros (também conhecidos como “baby blues”) de uma depressão pós-parto? Quando é que os sentimentos negativos podem ser um problema?

O que significa ter “baby blues”?

Em declarações ao Viral, João Palha, psiquiatra e diretor clínico da Casa de Saúde Santa Catarina (CSSC), começa por explicar que “a gravidez e o nascimento de um filho são muito romantizados, quase como se fossem apenas momentos de extrema felicidade”. 

No entanto, “a verdade é que os pais, em específico as mães, têm de ter um período de adaptação” ao bebé e à “grande variação hormonal” que se verifica no pós-parto.

Além disso, acrescenta, “o bebé, no primeiro mês, é um ser muito exigente, que requer, basicamente, um acompanhamento constante”.

Entre outras coisas, a pessoa que está a cuidar da criança “deixa de dormir”, “fica cansada” e até com um medo contínuo de tratar do bebé da forma errada.

Portanto, na perspetiva de João Palha, as mães têm de ter noção de que é normal as primeiras semanas, depois de se ter um filho, serem bastante difíceis.

“É daqui que surge esta questão do baby blues”, refere o psiquiatra. No fundo, o baby blues (ou melancolia pós-parto) consiste num conjunto de “sentimentos adaptativos normais – tanto do ponto de vista biológico (hormonal), como psicológico – a uma exigência tremenda que é ter um filho”, resume.

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Passar por esta fase é “natural” e “acontece com frequência”, reforça o médico. O problema é que, segundo o médico, como este período é muito romantizado, as mães quase não se sentem no direito de experienciar tristeza e acham que existe um problema patológico.

Assim, basta, no fundo, a mãe conseguir dormir melhor, “ter um bom suporte familiar e uma boa compreensão de toda a gente, que esta fase passa com toda a naturalidade”, tranquiliza o diretor clínico da CSSC.

Quais os indicadores de uma depressão pós-parto?

Os baby blues não devem ser confundidos com a depressão pós-parto, e estes dois problemas distinguem-se, desde logo, “na intensidade e na duração”, começa por esclarecer João Palha.

De acordo com os dados do Sistema Nacional de Saúde (SNS), “a depressão pós-parto afeta entre 10% e 15% das mães, e pode surgir um pouco antes do parto e/ou durante todo o primeiro ano após o parto”, sendo o seu início mais frequente até “4 meses após o parto”.

Segundo o SNS, alguns dos sintomas que caracterizam a doença são: “diminuição do interesse ou incapacidade para tarefas diárias”, “tristeza prolongada, irritabilidade e choro fácil”, “ansiedade”, perturbações alimentares e do sono, “sentimentos de culpa ou baixa autoestima”, “dificuldades de concentração” e falta de memória e de energia.

Em conjunto com estes sintomas, a mãe também pode “pensar em magoar-se a si ou ao bebé”, afastar-se das pessoas próximas e não se sentir satisfeita com a função materna.

O mais importante na depressão pós-parto é como a doença “interfere de forma direta na relação da mãe com o bebé”, salienta João Palha.

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A mãe pode ter uma “perceção negativa sobre os comportamentos do bebé”, “duvidar da sua capacidade para tomar cuidar da criança”, sentir-se distante emocionalmente do bebé e ter menos atenção e empatia pela criança (ver aqui).

“Há muito menos interação entre a mãe e o bebé e pode ir, muitas vezes, até à rejeição patológica”, frisa o psiquiatra. 

Como tratar uma depressão pós-parto?

No caso da depressão pós-parto, “não basta o suporte familiar”, começa por clarificar João Palha. “É uma doença importante, que pode ter a sua gravidade e, por norma, é necessário consultar um psiquiatra”, aponta.

Como se escreve no mesmo texto do SNS, o tratamento pode passar pela “toma de medicação”, “sessões de psicoterapia com terapia cognitiva e comportamental” e “intervenções psicossociais”.

“Tudo isto para ajudar a pessoa a recuperar o mais rápido possível, de forma a relacionar-se bem com o seu filho”, justifica o psiquiatra.

Quem tem maior probabilidade de ter depressão pós-parto?

Por um lado, destaca João Palha, “as pessoas com um bom enquadramento familiar e com uma genética favorável, por norma, têm mais resistência a este tipo de doença”.

Em contrapartida, refere o SNS, pessoas com um mau enquadramento familiar, “história de abuso físico ou sexual”, problemas socioeconómicos, “um parto complicado e/ou dificuldade em amamentar”, uma “gravidez não desejada” e com alguns problemas de saúde, podem ser mais suscetíveis a uma depressão pós-parto.

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Além disso, acrescenta João Palha, pessoas que já tenham tido uma depressão ou tenham membros da família que já tiveram também têm maior probabilidade de desenvolver uma depressão pós-parto.

Contudo, “uma pessoa pode ter uma depressão pós-parto ao ter um filho e ao ter outro não”. Nos casos em que a mãe já teve a doença uma vez, se decidir ter mais filhos, “é muito mais acompanhada”.

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Saúde mental

30 Dez 2023 - 08:00

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